quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Noturno

Ainda estavam se habituando ao rosto um do outro quando faltou luz. Mas isso não os perturbou, foi como o convite a uma brincadeira, o qual nenhum dos dois cogitou recusar. Sentaram, um de frente para o outro, em duas poltronas antigas diante da janela. As noites nubladas são claras como as de lua cheia. Como uma fotografia, na penumbra iam pouco a pouco se revelando. Suas idéias, seus sonhos, seus segredos. Falavam tão pausadamente que os uivos do vento pareciam fazer parte da conversa. Uma garoa fina que ameaçava invadir a sala refrescava o recinto. O vinho tratava de aquecer os corpos.

A garrafa esvaziou-se nas duas taças, que satisfizeram as bocas, que se calaram. Ela se levantou, aproximou a boca morna da dele. Não usava nada por baixo do vestido – o que ele pôde perceber ao subir as mãos para além das suas coxas. Descobriu-a úmida, e nela mergulhou sem pressa, mas com vontade. Aquele desejo de quem guarda um bombom para comer mais tarde. Devoraram-se.

Poucas horas depois, estavam deitados no tapete, os corpos enlaçados, quando o sol invadiu o sono. Nela, mordidas no ombro. Nele, batom na nuca. Em ambos, profundas marcas no coração.

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