sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Sobre coragem

Ela invadiu a churrascaria, interrompeu nosso almoço e deu a luz sobre a mesa. Eu fiquei impressionada, nunca tinha visto coisa assim. Ela se debatia, não sei se de dor ou desespero, ou se sabia exatamente o que estava fazendo. Seu rosto inexpressivo só fazia crescer a minha dúvida. Ela não dizia uma palavra, mas não parava quieta.

Lembro do recém-nascido (um pouco nojento, é verdade), bem branquinho, se contorcendo sobre a toalha xadrez. Ainda inábil para esse mundo, e sabe-se lá até quando o será. Logo veio o segundo, e outro, e mais outro, quando vi já eram seis. Pouco distantes da mãe, não paravam de se mexer, em meio à tanta carne e gente indiferente.

Ela já não agüentava mais, e ainda havia outros por vir. Seus movimentos agitados tinham dado lugar à exaustão, e ela quase não se movia mais, silenciosa. E ninguém a ajudava. O sétimo começou a sair, mas ela não tinha mais forças, e ele nem saía nem decidia voltar. Nem podia. E ninguém os ajudava.

Saí de lá sem saber se ela tinha conseguido parir a sétima larva ou se morrera de cansaço. Mas aprendi a admirar as moscas. Tem que ser muito corajosa pra parir assim, sozinha.

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