sexta-feira, 20 de outubro de 2017

Decolar na tempestade

Sempre me emociona o instante em que o avião decola, após percorrer alguns quilômetros em crescente aceleração. Adoro a sensação de euforia por me desprender do chão para desbravar terras distantes. Tem algo de coragem, independência e imprevisível nisso que me fascina, me hipnotiza, provoca encanto e arrepio. Mas hoje foi diferente. Eu estava triste e a sensação foi de alívio. Só isso: alívio por sair de onde eu estava. Nunca tinha decolado da minha cidade assim, iluminada por suas luzes noturnas e raios de tempestade. Sentia medo, mas não era por causa disso.

Na última vez que viajei pro Rio de Janeiro, tu fez questão de me acompanhar ao aeroporto, não sei exatamente por quê. Mas adorei poder ficar mais um tempinho contigo. Naqueles dias, eu custava a sair dos teus braços... Naqueles dias, semanas, meses, que na minha memória têm cheiro de capim-limão e que me fazem lembrar com tanto carinho daquele apartamento na rua Santana que tu detestava, a gente andava (re)descobrindo um ao outro. Eu só me dei conta de que estava apaixonada quando desembarquei e comecei a contar sobre nós para todo mundo, e meus olhos brilhavam e meu coração se enchia de saudade e de repente era tu o meu maior motivo para querer voltar pra casa. Percebeu que já faz um ano isso? Um ano que embarcamos nessa aventura de conhecer melhor um ao outro e a nós mesmos, e de tentar melhorar juntos, mesmo quando separados; de amar com liberdade, com a única promessa de sermos verdadeiros. Faz um ano e, ainda hoje, me custa ficar longe dos teus braços.

Sou só eu, ou estamos passando por um momento de turbulência? Apertem os cintos, diz aquela voz. Estou indo novamente pro Rio, o mesmo Rio de janeiro, julho e novembro, mas desta vez tudo está muito nebuloso – lá fora e aqui dentro. Uma criança ao meu lado olha pela janela e diz, decepcionada, que não sabia que o céu era assim. Eu também não sabia que a vida adulta seria assim. Crescer dói – pensei em alertá-la. Eu só queria que alguém estivesse aqui para segurar a minha mão até a hora de pousar.