sábado, 17 de março de 2018

Dia branco

Talvez seja preciso certa maturidade para aprender a amar os dias nublados. Não falo de quando há uma ou outra nuvem cobrindo o sol, mas de quando o céu está convictamente nublado, estático, cor de chumbo, como se as nuvens estivessem soldadas umas às outras, deixando a luz difusa em uma claridade aparentemente sutil mas que machuca os olhos quando saímos de dentro de casa. Talvez só quem tenha passado por uma sucessão de dias chuvosos e tempestades entenda a preciosidade dos dias nublados e a paz que eles me trazem, quando a brisa fresca não é vendaval nem o calor pesado nos tira a urgência de viver. Os dias nublados me dão licença para caminhar devagar, respirar fundo e não exigir muito de mim. Hoje mesmo estava nublado quando acordei, então saí andando por aí, ouvindo o silêncio e enchendo os olhos de mundo. Tudo o que eu preciso em um dia desses é uma sacada com uma vista que eu possa chamar de minha: que se torne rapidamente familiar e aconchegante. Um doce cairia bem, e a boa companhia pode ser a minha própria. E, quando o sol anunciar o seu retorno, é claro que meu peito vai se aquecer tanto e de tal forma que eu vou correr para a praia e mergulhar no mar imenso para festejar toda a cor e o brilho dos dias ensolarados! Mas continuarei sabendo que não há nada mais intenso do que aquele raio de sol que delicadamente resiste e escapa por entre as nuvens de chumbo, solitário como um louco, modificando toda a paisagem e o céu que paira sobre nós. Porque nada há de permanecer sempre igual.

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