“Aventureiro” se chamava o barco,
ancorado em frente à casa do pescador. Tinha escolhido para o barco um nome que
começava com A da mesma forma que batizara todos os seus filhos: Agenor, Adriana,
Adalberto, Aline e Antônio.
Pois uma tarde, Antônio, o
menorzinho, apoiando-se nos joelhos do pai, que fumava sentado na frente de
casa, fitou o mar e perguntou:
- Pai, quando os barcos viram ou batem
e quebram, eles morrem?
O pescador sabia que, na língua
das crianças, o menino estava repleto de razão.
- Sim, meu filho.
- Mas, quando eles morrem, eles
afundam... Então o fundo do mar é o céu dos barcos?
O pescador nunca tinha pensado
nisso, mas logo se pôs a imaginar o barco tocando o fundo do oceano, solitário,
restando alguns de seus pertences doravante sem função nenhuma, sendo pouco a pouco coberto por
algas e fazendo amizade com os peixes por toda a eternidade. Nenhum barco mereceria
o inferno, ponderou. O Aventureiro, que sempre esteve na superfície daquilo
tudo, assim desbravaria finalmente a profundidade do mar, descobrindo que as águas
podem ser bem mais tranqüilas do que ameaçavam com suas ondas e os temporais.
Ficando à deriva, porém não mais dos ventos que o empurrariam para longe, e sim
de toda vida marinha que viria a rodeá-lo.
- Sim, filho. O fundo do mar é o
céu dos barcos.