segunda-feira, 20 de agosto de 2018

na calada da noite, quando aceitamos caminhar juntos
nossos olhares se cruzaram acidentalmente
e reencontraram a ternura que guardavam
em um abraço que não queria acabar
abriu-se um parênteses no tempo

finalmente
voltar a enxergar o teu amor
mesmo que sem a paixão de outrora
e poder tocá-lo
um amor mais maduro, como nós
um amor que só é bom por não doer

e dormir o sonho do sono dos sonhos
satisfação plena e onírica e crua
como se há muito tempo esperasse por isso
como se isso há muito tempo esperasse por nós

foi uma noite curta
precisamente como poderia ser
com tudo aquilo que perfeitamente deu errado
(como não podia deixar de ser)

então a cidade acorda
lá fora, os carros recomeçam a correr por suas veias
- digo, vias -
que vão se espreguiçando ao raiar do dia
sem embargo,
aqui dentro, nada mudou

naquela manhã de segunda-feira sem pressa
esqueci do açúcar para o teu café
não sei se foi porque eu já tinha perdido o hábito
ou porque tu já tinhas adoçado o meu dia

terça-feira, 14 de agosto de 2018

Outros jeitos de usar a boca

quando um homem invade
o meu espaço, tempo ou vontade
não é só aquele momento que ele viola
ele viola todos os dias que se seguem
viola minhas noites de sono
o meu sossego
a minha confiança
até nos outros homens
ele viola a todas nós
mas o corpo é meu
e só eu
posso fazer com ele o que quiser
não estou no mundo à sua disposição
só porque sou mulher
e quando eu digo não
não importa os seus impulsos
o pulso é firme
é meu
e diz não
e quando eu digo não
eu não faço isso só por mim
eu faço por todas nós

por mim e por todas nós
repito como um mantra
por mim e por todas nós