segunda-feira, 24 de maio de 2010

Terminado o chimarrão, sobrou só o preguiçoso gosto da manhã naquela cama compartilhada. Ele lia as notícias, ela se distraía tentando distraí-lo.

Roçava devagar seus pezinhos 35 no seu par 41, cantarolando baixinho alguma do Sabina. Contava sobre a semana enquanto lhe fazia cafuné, e ronronava, felina, acomodando a cabeça no seu peito. Beijava de leve cada pedacinho do seu corpo, com beijos que eram quase cócegas. Comentava alguma foto ou reportagem, mudando de posição apenas como pretexto para encostar o máximo da sua pele na dele – esse terreno irrecusável que costuma ser a pele dos amantes...

Ele então desistiu da política, das crônicas, do clima e dos esportes. Num impulso, arrancou o lençol fazendo as folhas do jornal voarem pelo quarto como pombas assustadas. Ficaram expostos os dois corpos nus e toda a vontade que eles abrigavam.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

El miércoles me marcho. Los lunes nadie puede creer que ya empezó la semana, los martes sí lo creen, pero sólo el miércoles tendrán la cabeza involucrada en la rutina lo suficiente para no darse cuenta de mi ausencia. Porque eso pasa con la rutina, como las olas, una tras otra, que acaban por tragarnos al mar. Cuando se enteren de que no fue sino una fuga, yo ya estaré bien lejos, a punto de convertirme en el polvo de mis pasos. Algún chisme, de esos que siempre resultan más creativos que el propio destino, y luego seguirán como si nada.
No puedo esperar más, que si pienso dos veces me quedo. Y si lo pienso tres, no vuelvo jamás.

sábado, 1 de maio de 2010

Um bom poema leva anos (Leminski)

um bom poema
leva anos
cinco jogando bola,
mais cinco estudando sânscrito,
seis carregando pedra,
nove namorando a vizinha,
sete levando porrada,
quatro andando sozinho,
três mudando de cidade,
dez trocando de assunto,
uma eternidade, eu e você,
caminhando junto

Paulo Leminski



Foto minha: Porto Alegre, 2009.